16/01/2008

4ª, 5ª e 6ª Diárias: Versão do Produtor - Pancadaria.

Texto originalmente publicado em 09/01/2008, no blog www.sem666palavras.blogspot.com

Após um recesso de um mês sem filmagens, eis que matamos três coelhos do curta Os Batedores no decorrer desta semana. Era para ser quatro orelhudos, mas o péssimo tempo de sábado quis que pedalássemos as cenas do Ligeiro para março. Destino. Um male que vem para o bem, talvez.

Vamos à cena do flashback no Hospital. “O Homem” acorda de seu coma de cinco anos com sede de sangue. Jack Gerchmann entra de sola no curta e empresta seu vozeirão para ecoar nos corredores do Hospital Moinhos de Vento, que apoiou o projeto de tal forma que até uma enfermeira ficou disponível só para nos auxiliar com os aparelhos e bandagens. Na suíte do HMV, uma equipe enxugada se esforçava pra fazer o mínimo de barulho enquanto produzia efeitos de relâmpagos. A enfermeira amarrava a cara de medo ao ouvir o Jack repassando o texto de Amadeu Deodato, enquanto colocava o soro no “paciente”. Duas horas e vinte minutos depois de chegarmos ao hospital (duas horas de produção, filmagem e desprodução e vinte minutos na tentativa desesperada de tirar uma lente de contato do olho do Jack), já estávamos encerrando as atividades da filmagem de sexta.

Domingo. Dia de sol. O comboio parte de Porto Alegre rumo à Sapiranga, cidade das rosas. Além de rosas, a cidade também tinha o banheiro de um posto de gasolina, ideal para a fatídica cena do banheiro onde Raul (Marco Soriano Jr.) levaria um atraque de Tosco (Eduardo Ribeiro). Eu não tinha muita noção do que o Filipe estava planejando para a cena, mas se o Ghiorzi estava no local, boa coisa não era. Nosso mestre dos efeitos veio com sua inseparável valise verde, com toda sorte de cicatrizes, ampolas e tonalidades de sangue falso. A Lisi, maquiadora que também tem uma certa predileção pela fabricação de machucados, observava enquanto o Ghiorzi arrebentava o Marco antes mesmo dele apanhar em cena.

Banheiro interditado, vasos sanitários higienizados (Henrique e eu pagamos nossos pecados), luzes prontas, atores em posição: começa a peleja. Raul tenta sair do banheiro. Tosco não deixa e ignora. Joga o infeliz feito um saco de batatas de um lado para o outro. Dava pra ouvir o barulho e os gritos do lado de fora do set. Enquanto os atores se digladiavam no banheiro, os chamados “machos” de Sapiranga contorciam o rosto por serem obrigados a usar o banheiro feminino. Um deles bradou:

- Não vô em banhero de muié porque eu não sô gay. Eu sô machista.

Chicão, pai da Gabi, que havia dado carona pra metade da equipe, balançava a cabeça de olhos fechados em sinal positivo, concordando com o sujeito. Não demorou muito para que os sapiranguenses começassem a aloprar com seus carros e seus vanerões, prejudicando nosso som. Gabi e Fernanda uniram forças para pedir gentilmente para baixarem o som. Funcionou muito bem com o primeiro carro. No segundo, elas voltaram frustradas, pois tinham sido ignoradas por dois magrões fankeiros, que aumentaram o volume. Em uma pausa entre takes, o Tosco foi falar com eles. Reza a lenda que foi mais ou menos assim:

- Ô meu, as gurias vieram pedir pra abaixar o som e vocês ignoraram. Nós estamos filmando, pagando locação e, se tu quiser, eu vou me incomodar contigo.

- Bah, mas tão filmando mesmo? Foi mal. Respondeu o magrão, praticamente mijando de medo.

Imediatamente o som foi desligado e os pneus cantaram. Edu voltou feliz para o set. Tão feliz que socava o coitado do Marco com sorriso no rosto. Nos empolgamos tanto com o resultado que até colocamos o Tosco pra falar em cena:

- Perdeu, Cara! Gritava o brutamonte, emendando um chute no estômago de Raul.

O Márcio parecia o Homem-Aranha, pulando em cima dos boxes e filmando a pancadaria de um plano aéreo. Lá embaixo, Tosco jogava Raul box adentro e o puxava de novo pra mais porrada. Chute, sangue, cabeçadas nos azulejos e o vôo final, onde o Jéferson, nosso coreógrafo, nos indicava a melhor forma de arremessar o pobre Raul em direção à câmera sem machucá-lo (muito). O Circo Girassol nos cedeu alguns colchões para essa cena. Marcelo, Henrique, Jé e eu segurávamos firmes os tais colchões. A Cíntia segurava a câmera do making of, que não deve me deixar mentir: o Marco voava, literalmente falando.

Já havia um clima de hostilidade na rua por parte dos habitues do posto quando o Diretor gritou:

- Temos!

Ouviu-se palmas da equipe. Sorrisos. Satisfação de dever cumprido depois de tanto tempo sem filmar. E que cena. Era a nossa “Paixão de Cristo” particular, onde o Marco Soriano Jr. era o Jim Caviezel. Me disseram que, no dia seguinte, Edu e Marco estavam tão quebrados que um deles pediu para ser levado ao HPS. Adivinhem qual dos bixcoitos pediu isso???

Ontem...

Correria mambembe para gravações de inserts de apresentação do Tosco. Como o Edu está para ir ao Rio (epidemia entre atores nesta época do ano), decidimos matar de vez as cenas com ele. 19:30h de uma terça-feira no Centro não é bem uma coisa habitual, mas o pessoal estava lá. Rua 24 horas. Edu trouxe figurantes de Canoas, Jack trouxe mais alguns. O Cristian logo chegaria para ser esmagado, pois tinha a nuca certa para esta cena. Até a Gabi entrou na roda. Nos inserts, o Tosco brutaliza: passa por cima de um pacato cidadão, rouba bolsa de gentis senhoras, atravessa uma família no meio, vira um desafortunado de cabeça pra baixo e o chacoalha para ver se cai alguma coisa, esmaga um crânio. Aaaaaaaahhhhhhhhh, estraguei a surpresa? Que nada. Vocês têm que ver para crer. O Edu nasceu pra esse papel. Os figurantes estavam perfeitos. Enfim, nada do que eu disser ou descrever aqui paga o produto final, que vai ficar simplesmente espetacular.

Terminamos as filmagens já com aquela nostalgia. Próxima filmagem só depois do carnaval. Merda. Mas fazer o quê. Foi nosso último dia com o Edu e já estou com saudades do gordo. Relatos dizem que ele levou Diretor e Diretor de Fotografia para tomar uma ceva em Canoas e contou histórias tão assombrosas que fez as minhas parecerem brincadeira de criança.

Temos um novo mestre, senhoras e senhores.=P

3ª Diária: Versão do Diretor - Sábado, 23.11

Texto originalmente publicado em 13/11/2007, no blog www.sobrevivendoaojogo.blogspot.com

Raul procura seu antigo mestre, Odilon, em OS BATEDORES. É uma alternativa final e sem nexo pois Odilon é o tipo de sujeito que não tem 30 mil na manga. Mas apesar de estar confinado a uma cadeira de rodas, Odilon dá um jeito de sobreviver, passando golpes por telefone, de maneira casual, enquanto assiste a uma TV e vai empurrando a vida com a barriga. Este é uma cena que não estava no cerne do roteiro de os Batedores, enquanto outras que haviam acabaram caindo por água... Mas me lembro quando sugeri ao Édnei que o Raul tivesse uma namorada. Namorada não, disse o Édnei. Sempre foi resoluto quanto a participação de personagens femininas... Vai entender. Então sugeri o pai do Raul. Larápio das antigas. Recebi um olhar desconfiado. O que achava é que precisávamos explicar mais sobre Raul, de onde ele veio, para onde vai (isso está sendo cuidado nos dias correntes...). Ao final de nossa negociação, e ainda na dúvida se não seria ainda mais complicado de realizar o filme com um monte de cenas a mais (Flashbacks acabaram pingando) o martelo foi batido sobre o "mentor" de Raul. Eu prometi que se estávamos na chuva era para nos molharmos e mesmo com cenas elaboradíssimas a mais, íamos dar conta. Como o Pedroso andava dando cabeçada sobre que final ia dar ao roteiro, com a chegada destas novas perspectivas, o final acabou se delineando. Traição, é o que os crápulas praticam. A maior troca foi se enxugar uma cena com velhas larápias. Foi uma troca justíssima. E de quebra deu a possibilidade do Jack Gerchmann escalar o Artur Pinto para o papel. E que escalação. Eu estava preocupado em delinear a personagem em pouco tempo mas acho que o Odilon sempre foi um cara auto-explicativo. O Artur, como é dramaturgo, leu o roteiro e sacou de cara todo o tom. Ainda brifei algo com ele no sábado mas ele me olhou como se fosse o óbvio. E era. Abrimos câmera e tudo fluiu com uma naturalidade impressionante, o Marco e ele repetiram umas 3 vezes a cena inteira pra cada plano e só uma vez erraram, quando a grana cenográfica foi roubada pelo Soriano. E em cada take um elemento ia se adicionando. Eu não sabia a palavra certa para definir o método do Artur e o Soriano me esclareceu: partitura. Cada novo elemento que ia surgindo ou que eu sugeria ele ia decorando e compondo nos tempos certos, sem deixar nenhum passar. E a cena ia enriquecendo. Então, Odilon passa golpe, abre a porta eletrônica de casa (ele é cadeirante), assiste TV, recebe o pupilo, coça o nariz, diz que o "Ligeiro é Lento" (eheheheh) e alcança a grana. Ainda leva um beijo na cabeça do empolgado Soriano. O legal é criar estes climas conflitantes. Na cena do Marcião, o fio da navalha, o perigo eminente; na cena do Odilon, a camaradagem, a salvação. O curta, apesar de curta, é costurado destes altos e baixos. Vou sonhando com a trilha sonora que cria o clima perfeito, uma montanha russa sincopada, a percussão crua, um ritmo um pouco retrô... E la nave va.

3ª Diária: Versão do Produtor - 8 e 80!

Texto originalmente publicado em 26/11/2007, no blog www.sem666palavras.blogspot.com

Chega o terceiro dia de filmagem do curta Os Batedores. Desta vez, com algumas peculiaridades que vale a pena enumerar: devido ao espaço apertado do set, apenas um representante de cada núcleo foi requisitado. Tínhamos também um prazo para término de gravação, pois um dos atores tinha compromisso para as 19h (ou seja, não poderíamos permitir qualquer atraso no cronograma). O risco de chuva era iminente e ameaçava comprometer o áudio. E a pior de todas: o set era no apê onde eu moro, e este apê não é meu.

Eu poderia prosseguir com o texto colocando o punhado de problemas que tivemos de enfrentar logo de cara e dramatizar a coisa (tal qual a cadeira de rodas que não fechava e tivemos de transportar dentro do Corsa do Filipe Ferreira – comigo embaixo dela – ou o atropelamento do nosso figurinista, cuja notícia eu recebi no início da tarde e tive de guardá-la para não “contaminar” o set), mas a verdade é que esta foi uma diária muito diferente da de domingo passado.

Se domingo passado foi o “80”, estressante, fatídico, alucinado e demolidor, este sábado foi o “8”: sossegado, simples, rápido e mortal. Embora tenhamos iniciado com uma hora de atraso no cronograma (pra não perder o hábito), terminamos tudo com uma hora de folga. Muito disso deveu-se ao feeling dos atores Artur José Pinto e Marco Soriano Jr. Seus diálogos soavam como uma música, ritmado, de tempo perfeito, como se os dois atuassem juntos há anos. Era bate-e-volta, lindo de se ver. Em algumas conversas que tive depois das filmagens, fiz a seguinte analogia: enquanto o França é um ator que abre um leque de um zilhão de possibilidades para o Diretor, o tipo de soldado que usa uma metranca giratória que acaba com uma floresta inteira, o Artur é o legítimo sniper: vai, mira, mata e sai de cena. Com texto na ponta da língua e uma habilidade de fazer o Odilon melhor do que eu imaginava, o Artur legitimou o papel de tal forma que era complicado de eu segurar o riso toda vez que ele acionava o gravador em cena enquanto via um programa de TV. Para alguém que estava segurando o boom (o König não havia dado o ar de sua graça nesta diária, então, sobrou pra mim e pro Álvaro revezarmos), isso era complicado.

Coloquemos aí também a presença sempre carismática do Eduardo Ribeiro, que rouba a cena na pele de Tosco, e teremos a diária mais sossegada e produtiva da qual se teve notícias. Não que as anteriores não tenham sido produtivas: todas elas renderam imagens maravilhosas. Mas a relação produção/stress, nessa filmagem de sábado, chegou num nível de paz inacreditável, tanto é que no nosso happy-hour no Cavanhas (que cedeu R$ 150,00 de alimentação para a produção do curta), eu só fazia sinal de “não” com a cabeça e dizia para mim mesmo: “não acredito que foi tão fácil”. O desfalque na equipe não comprometeu. Terminamos tudo com tempo de sobra. A chuva não atrapalhou o áudio, e o dono do apê onde moro foi dos mais cortês e prestativo.

Bem que as próximas filmagens poderiam ser assim.

No próximo findi, teremos recesso para o pessoal da equipe viver um pouco, resolver algumas pendências de produção e ajeitarmos algumas coisinhas no roteiro.

P.S: O Duca, figurinista, já se recuperou e passa bem.

2ª Diária: Versão do Diretor - Domingo

Texto originalmente publicado em 20/11/2007, no blog www.sobrevivendoaojogo.blogspot.com

Em breve em um cinema perto da maioria de nós o filme mais curioso de 2007: http://www.imnotthere-movie.com/ ...5 atores e 1 atriz são Dylan. Proposta de primeira categoria. O mais estranho é que quem ficou mais parecido(a) com ele foi a Cate Blanchett. No físico, nos gestos, tudo. Sinistro.

Em falar em sinistro e em todas as possibilidades desta palavra desconfortável, sinistro é um bom adjetivo para as últimas captações de Os Batedores. Este "Karma" que têm nos seguido tem uma conotação maléfica e benéfica ao mesmo tempo. Acredito seriamente nisso. É tempo de provação. De testar limites e possibilidades e lutar contra uma série de fatores que fazem da melhor maneira o que todos nós buscamos neste projeto: aprender. Aliás, pra tudo que se faz na vida vale esta máxima. Aprender, depois fruir. Mas mesmo com o inverno rigoroso no set do Beco este último dia 18, conseguimos sofrer e fruir ao mesmo tempo. O domingo amanheceu chuvoso o que assolou a lista de chamada no set. Algumas pessoas, apesar da comprovação científica de que uma dieta à base de açucares é maléfica à saúde, são feitas disso. Isso prejudica o organismo vivo que é a produção. Fanfarronice e balbúrdia também prejudica. Mas estes males foram os menores neste dia 18. O navio enfrentou outras tempestades como desistência inexplicáveis e/ou forjadas; danos materiais e acidentes no set. Se servir de consolo para quem participou e teve um domingo de cão mesmo que não estando envolvido nos incidentes, o material captado ficou muito rico. Claro que uma cena pronta NUNCA fica igual ao que estava na cabeça de todo mundo... seja pra melhor ou pior... mas a cena do Marcião ficou bem próxima da minha imaginação pelo menos. O que havia de leque de possibilidades na mão do França um dia antes, no dia do ensaio, acerca da personagem, se concretizou em uma face. Um travesti falsamente chique, que nunca perdeu seu ar de vagabundo de rua (ao cruzar as pernas isso fica evidente) e que tem um temperamento instável e atordoante. Acho uma medida justa. Seu lado violento ficou assustador. O espancamento era um barco cruzando no horizonte e o horizonte era uma festa nos fundos de seu escritório. O Jefferson fez sua estréia no curta. Não abriu a boca mas bastou seu olhar para marcar a cena. Hoje vi umas imagens de sua atuação como clown. Batendo uns pratos em uma banda de palhaços. Se estivesse de fraldas não teria segurado o mijo.

De resto, caneta e dedão, a caçada do cão. Do cão, apenas o humor. Diária em estúdio maçante hoje de manhã e amanhã gravação dia todo. Ceninhas com pessoas felizes e consumistas. Perdeu a graça. Pelo menos por hora. Por hora a hora da provação balizou legal o meio de campo. Ainda bem que o Dylan tá me dizendo...

How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

2ª Diária: Versão do Produtor - Turbulência!

Texto originalmente publicado em 20/11/2007, no blog www.sem666palavras.blogspot.com

Agora entendo um pouquinho do que Jack Bauer passa quando algum roteirista amalucado resolve que seria engraçado colocar um agente da CTU no seu pior dia. Não me entendam mal. Não foi um dia ruim. Mas foi um dia de provações, insólito, cansativo, enfim, um dia muito, muito difícil. Malditos roteiristas.

Segue a Segunda Diária de filmagens do curta Os Batedores, neste domingo passado...

Começamos pelo trivial: Filipe Ferreira, Soriano e eu indo de manhã até Canoas para buscar nada menos que algumas genitálias decepadas na casa do Ghiorzi. Como um passeio no parque, o nosso mestre do FX virava pra trás e dizia “Filha, fica aí que agora o papai tá trabalhando” enquanto nos mostrava os pênis que havia tecido em latex.

- Peguei o modelo num site pornô.

Infelizmente, o Ghiorzi tinha compromisso de tarde e não pôde nos acompanhar nas filmagens de logo mais.

Primeira baixa.

Chegando na Lumiere, constatamos que o Padilha, eletricista e pau-pra-toda-obra, iria nos acompanhar na empreitada do dia: a cena em que nosso herói Raul (Marco Soriano Jr.) vai pedir dinheiro emprestado ao Marcião (João França). A equipe técnica voltaria a ter Márcio e König, que guardavam os equipamentos na Kombi. Fernandinho, assistente de câmera que estava confirmado, ligou para o Ferreira desmarcando, pois tinha que socorrer o pai que havia pifado o carro na rodovia.

Segunda baixa.

Enquanto embarcávamos na kombi e seguíamos para a locação, meu celular parecia ter Síndrome de Tourette. Tocava. Tocava. Tocava sem parar.

“Que horas na estética?” Dizia a Gabi.
“Já estamos aqui na locação.” Dizia a Bruna.
“Tem que buscar a mesa.” Dizia a Cris.
“Vão sem mim.Vou de bus.” Dizia o Jé.
“Que horas vai ser a cena com os figurantes?” Dizia o Jack.
“Que horas vocês passam aqui?” Dizia a Juliana.
“Nós vamos parar pra comer alguma coisa?” Dizia o König, mas este não era por celular.

Neste meio tempo, eu ligava e ligava e ligava para sanar o meu pior problema naquele momento: o desaparecimento do instrutor de academia que faria uma ponta como o segurança do Marcião para nós. Nada do indivíduo. Celular desligado.

A kombi chega no Beco...

Sim, o tão comentado Cabaret do Beco seria o lar do Marcião. Carlos, um dos donos do lugar, nos cedeu gentilmente seu domingo de descanso e o ponto para que executássemos esta cena com o clima opressivo que precisávamos. De uma hospitalidade bacana demais, o anfitrião nos mostrava os locais onde poderíamos fazer platôs, colocar luzes e modificar (ou não) para montar a jogada. O restante da equipe começou a chegar e logo a Cíntia já estava no comando provisório. O Ferreira corria para pegar o França e levá-lo na estética, a Bruna seguia na missão ingrata de tentar achar o segurança na casa dele e trazê-lo a força (se alguém poderia fazer isso, esse alguém é ela), e eu corria com o Cristian e o Padilha para pegar os objetos e móveis de cena. Pouco antes de a Bruna ir à cata do grandalhão, o Marco veio correndo e pediu encarecidamente para sair junto. Com olhos cheios de água e engolindo em seco, o matador de 5-15 estava, como diria o Capitão Nascimento, com medinho de ficar dentro do set, pois o lugar, segundo ele, era muito pesado. Sim, ele é um bixcoito.

Problemas de sexualidade à parte. Durante a busca pelos objetos, angariamos Cris e Cainã (não, não é uma dupla sertaneja) e os Irmãos Zandoná (também não é dupla sertaneja, mas passam perto). No trajeto, Padilha me confidenciou que só poderia ficar conosco até às 16h, pois teria de ir buscar a filha depois.

Terceira baixa.

Após desovar esse pessoal no set, constato que a Bruna não conseguiu encontrar o maldito segurança em casa.

Quarta baixa.

- Édnei, posso chamar outro cara pra fazer o segurança. Dizia o Cristian.

- Quem?

- Ele é grande, mas tem um problema.

- Que problema?

- Ele é meigo.

- Hã?

Tratava-se do Carlos Thomaz. Cinéfilo do gore e amigo de longa data do Cristian. Sim, o cara era grande e tinha um talento dramático diferenciado (como ele mesmo gosta de enumerar), mas servia, afinal, um cara do tamanho que esta cena exigia não seria fácil de encontrar.

Depois de Bruna, Duca e Pomba (ou seria o Cristian?) arrastarem o Thomaz para o meio do vendaval, Bruna e eu seguimos para a estética, onde o João França estava sendo parafernalhado para a cena. Aqui saliento a disposição e talento das meninas da Flach, Ivete e Verinha, que conseguiram deixar o França bonito para o papel de Marcião, o emblemático agiota que vai dar dor de cabeça ao Raul. Momento kodak: durante uma fita de Making Of, gravado pela Gabi, o França me abraça e diz “O criador e a criatura”, com aquela espirituosodade toda inerente a ele.

Tudo pronto e um irreconhecível França depois, fomos para o set, que já estava praticamente montado. Chego lá e descubro que um acidente de percurso adulterou a decoração do local e os ânimos da galera. E lá vai o Édnei falar com o Carlos para solucionar o problema. Ouço alguém no canto dizer algo parecido com “o cara é o Super-Homem”. Não sei se era pra mim, mas com certeza falar com o dono da locação e garantir a integridade da mesma era mais um leão que eu tive de matar. Com aquele atraso típico de quase uma hora no cronograma, começamos os últimos ensaios. Atores já figurinados e maquiados. Julia batendo fotos afu. Luzes prontas. Cenografia pronta. Numa sala escura com ursos de pelúcia pendurados no teto, Filipe fazia sua última reunião com o Marcelo e a Cíntia, antes do batente.

Luz, câmera, AÇÃO!

Ligeiro (Jéferson Rachewsky) encarava o segurança (Carlos Thomaz) de Marcião enquanto Raul tentava extorquir algum do agiota. De novo. De novo. De novo. Agora outro plano. As tábuas rangiam. O calor era descontado nos copos de água (cedidos para o curta pela Águas Mineral Sarandi). Minha cabeça explodia enquanto eu tentava tirar uma soneca escorado na parede, num dos poucos momentos em que tive descanso neste dia. Acordei. Voltamos ao problema da alimentação. Logo chegamos à conclusão de que o lance era pizza novamente. Desta vez tive de negociar com uma pizzaria para me darem uma pizza a mais pelas cinco pizzas gigantes que estávamos comprando. Consegui uma pizza doce só jogando charme em cima da Karine, a moça da tele. Ela devia estar numa maré ruim.

Numa daquelas casualidades decorrentes de cronogramas atrasados, nossos figurantes começaram a chegar para a cena de Flashback junto com as pizzas. Como dizer pra essa turma, que veio participar na parceria e no amor, pra esperarem um pouquinho que a equipe tinha que comer um rango que já estava contado? Situação chata, claro. E lá vai o Édnei conversar com eles. Entenderam tudo de boa, alguns foram dar uma banda, outros ficaram e conversaram com o Jack, que estava fazendo a sala, outros ainda compraram cervejas...enfim, deu tudo certo. Faltava apenas o Devedor chegar.

Hã? Como assim? Isso mesmo. Graças a outro contratempo, Paulo Carvalho, colaborador-mor da Arquivo Morto que faria o papel de Devedor, só poderia chegar um pouco mais tarde. E lá vai mais algum atraso no cronograma. Quando essa figura chegou, foi aquela correria. Figurino, lustre na careca, e vamos nós de novo filmar. Desta vez, era a cena do Flashback, que mostrava o que acontece quando alguém deve pro Marcião e não paga. Lá atrás, os figurantes dançavam empolgados enquanto o Álvaro mexia um canhão de luz. Com um travelling, uma incorporação completa do França, e alguma paciência, conseguimos capturar a aura ameaçadora e mortal do agiota, que olhava com ódio enquanto o Devedor mostrava a foto da família para tentar explicar que estava com problemas financeiros. Novamente tivemos outro contratempo, enumerando mais uma baixa (perdi as contas de quantas pessoas foram se desligando da equipe neste dia). Embora já tivéssemos a cena, esse contratempo em especial me deixou no chão.

Eram 11 e picos da noite quando, finalmente, encerramos os trabalhos. Liberamos as pessoas de volta à suas vidas e fomos até a Lumiere descarregar as coisas. Nossos pontos altos foram as caras de satisfação do pessoal do back vendo o resultado dos nossos esforços no pequeno monitor: o Jé olhava pra mim e dizia “Do caralho!”. O Cristian olhava pra mim e dizia “Do caralho!”. As meninas da Flack sorriam orgulhosas com o bom trabalho. Era visível a satisfação geral. Alguma palhinha do treco vocês podem conferir na foto.

Este domingo de filmagem foi o meu domingo mais turbulento de set. Eu só queria que o dia acabasse. Deitei por volta das 01:30 da manhã e estava tremendo. Não consegui dormir. Foi um suplício pra levantar da cama na manhã de segunda-feira. Embora todo mundo tenha se esforçado e dado o máximo para fazer da filmagem de domingo um sucesso, espero, sinceramente, que os outros colegas de equipe tenham curtido mais do que eu... ou se estressado menos.

São as peculiaridades de se fazer cinema de guerrilha. O que importa é que “temos”.

Sábado que vem tem mais.

1ª Diária: Versão do Diretor - Diária 1

Texto originalmente publicado em 12/11/2007, no blog www.sobrevivendoaojogo.blogspot.com

este domingo, dia 11, foi um dia infernal e mágico. primeiras captações do curta “os batedores”... as adversidades foram “humanas”, as benesses, “naturais”. o tempo se firmou de maneira mágica ao longo do domingo, proporcionando uma luz agradável (até mesmo para os que com ela se queimaram) e fotografia boa para um dia inteiro. as adversidades ficaram por conta da fatídica parada gay que movimentou a redenção e cujos carros alegóricos poluíram nossa captação de áudio. isso desde cedo. de tarde a feira do livro atrapalhou um pouco, devido ao excessivo número de carros e transeuntes na avenida mauá. nada que já não estivesse previsto e ao mesmo tempo, não. a parada estava marcada para começar as 16 horas. a martelante música eletrônica começou a rufar pouco antes das 11 da manhã. Depois de perder os cabelos, ficamos com os truques alternativos. pânico. não sei dos outros, mas da minha parte e da do König... pânico é a melhor palavra. outro fator humano que atrapalhou foi a demora da liberação do primeiro platô. mas é melhor parar de falar nos problemas e ir logo para as soluções.

cena 1. redenção. de cara a Pomba descobre que precisamos autorização para gravar lá e não a temos. porquinhos novatos! como ninguém havia pensado nisso, decidimos encarar o desafio. o desafio era uma espécie de suborno. comprar um capacete para o guarda noturno. 200 contos... mas vamos lá. soriano e benevenga em cena. Primeiro há de se falar no figurino. o Duca, figurinista, e a Juliana, produtora de figurinos, fizeram um trabalho primordioso. Um trabalho tão completo que a primeira vez que vi o Soriano figurinado, um dia antes desta diária, não gostei. mas uma vez em quadro, as roupas lhe cairam como uma luva. eles tiveram um olho clinico do qual eu me furtei. o Soriano comentou que toda vez que virava pro lado e dizia “cadê o sapat...” a Juliana já estava lhe estendendo o item necessário. a Lisi deixou o Benevenga impecável como o James Cagney. rosto de pedra e cabelo de gângster. ele chegou com a voz trabalhada sobre a qual conversamos um dia antes e marcou o gol enquanto o Henrique segurava com força o público que tentava invadir a cena. Tivemos especial problema em fazer aparecer a arma em sua cintura mas finalmente a Gabi encontrou o “ponto de equilíbrio”. vale destacar também a participação do Kid como leitor de banco de praça. sua presença em tela praticamente ofuscou Marco Soriano Jr. - exatamente como o Édnei já havia me adiantado: “o Kid vai roubar o papel do Marco”. só não aconteceu por causa da disparidade de idade...

neste meio tempo foi o almoço. Enquanto o Édnei buscava os elementos da equipe para a pizza, a Bruna, produtora, organizava toda a parada no platô. estávamos atrasados em umas duas horas no cronograma!

o orelhão foi uma incursão de pedaço da equipe, só o necessário. na cena, Raul (Soriano) liga insistentemente para seus cumparsas afim de levantar a grana. aqui, há de se falar no método do marco para a interpretação. temos preparado a personagem há semanas e incorporamos muitas nuances a ele. algumas, inclusive, conflituosas. o marco uma vez no papel aproveita muito bem alguma destas “peças” ou “itens” de ensaio e de outras simplesmente se desfaz para sempre. ao mesmo tempo cria algumas expressões e característica que vão se incorporando na personagem, como uma bola de neve. quando elas surgem, me resumo a dizer “isto é bom, mantém” ou, “menos, menos”... acabou que eu imaginava a cena frenética, mas ela ficará mais frenética ainda. é um prelúdio das desgraceiras que se seguem e realmente ditar o tom certo é um desafio. acho que esta cena em especial deixou a cintia e o marcelo com a pulga atrás da orelha. espero na edição esmagar esta pulga com a salada que pretendo fazer. caso contrário a pulga vai me causar uma coceira desgraçada. mas foi uma cena difícil: muita repetição, muito ruído e muitos PC´s (público curioso).

finalmente o momento que mais divertiu a equipe: ver o Eduardo Ribeiro (o “Tosco”) tentando alcançar o Raul e de quebra, a grana. na cena, mais uma personagem importantíssima: uma pedra cenográfica criada pela Cris e pelo Cainã. o Eduardo se saiu muito bem na sua missão que era ser um cara que faria o Soriano mandar sebo nas canelas. ameaçador, louco, bruto, tosco. e a pedra não o atingia! Resultado de muito vento e a má pontaria do Soriano! Fizemos alguns bons takes e colocamos o nosso “Lucky Man” a trabalhar, o artista do gore, Ghiorzi. trouxe de casa cicatrizes manufaturadas para o Tosco e lhe causou mais o dano da pedrada. demais. tudo devidamente registrado pela Fernanda para dar continuidade a cena quando o Tosco invadir o banheiro! Muita correria e um diretor de fotografia com ritmo de velocista: Márcio Cardoso, operando a câmera é o “steady man”, ou quando a câmera sobe em sua mão, o Homem Grua!

agora é esperar semana que vem, quando um dos momentos mais aguardados se concretiza: França/Marcião. e morrer de curiosidade acerca dos stills feitos pela Julia, que mostrarão coisas que não tive oportunidade de presenciar!

15/01/2008

1ª Diária: Versão do Produtor - Começa o espetáculo.

Texto originalmente publicado em 13/11/2007, no blog www.sem666palavras.blogspot.com

E chegou o domingo. Após uma noite inteira de chuva, bebidas e preces, amanhece na capital gaúcha com um inacreditável céu aberto. As pessoas me ligavam às 06:40h da manhã para perguntarem se estavam sonhando ou se o tempo realmente tinha melhorado. E tinha. Há de se fazer um parênteses aqui: embora seja regra de ouro deste blog não citar nomes, sou inclinado, neste tópico e talvez em alguns próximos, a burlar essa regra para enumerar os acontecimentos fantásticos que aconteceram e, principalmente, os que estão por vir. Desculpem, mas às vezes eu sou volúvel.

1º dia de filmagens de Os Batedores. A brisa outonal nos chicoteava enquanto abancávamos o equipamento de filmagem na kombi, às 7 da matina. Eu estava especialmente pregado, pois tinha passado a noite toda no aniversário do Cabaret do Beco (lugar que já citei em outro post) e saído de lá às 05:40h. Mas quando o assunto é cinema, algo toma conta de mim e eu viro o coelho da Duracell.

Redenção. Oito e trinta. Quase toda a equipe já estava lá, inclusive meu pai, que veio de Guaíba só pra dar um toque especial e abrir com chave de ouro o nosso curta, na primeira cena. A correria começou lá pelas 9 e tantas, pouco depois da Cláudia, produtora, negociar uma autorização com a administração do parque em troca de um capacete de R$200,00 (?), que a Arquivo Morto, em tese, teria de pagar alguns dias depois. Com certeza algum afegão vai esperar um bocado pra proteger a cuca por lá.

Platô montado, sol batendo na testa, e o grito de “Valendo!” do Filipe Ferreira. No banco de praça, a cena era Raul, o batedor de carteiras mais safo da parada, afastando um leitor enxerido (meu pai) com um olhar torto. Um crossover dos mais improváveis estava acontecendo ali: Marco Soriano Jr., o ator-ícone da Arquivo Morto, e Euclides Rodrigues, o lendário Kid, pai deste que vos escreve, trocando felpas num banco de praça. Obviamente que isso era um sinal de que a coisa ia ser pra lá de especial. Não tenham a menor dúvida, foi. A equipe se puxava fazendo contenção (o Henrique era tão educado na contenção, que fazia os transeuntes agradecerem por terem de desviar de seu caminho), enquanto éramos protegidos por um brigadiano de bicicleta chamado “Bono”. Não demorou muito para que o pessoal da Parada Gay (sim, era dia de Parada Gay) começasse a fazer zoeira do outro lado do parque e comprometer o áudio com caixas de som potentes e Village People. Guerreiro, König se virava como podia para puxar um bom som no seu boom, enquanto meu pai já saía de cena e cedia seu espaço em tela para Cláudio Benevenga, envergando elegantemente um terno risca de giz na pele de Arauto, o capanga robótico do vilão do curta. Enquanto isso tudo acontecia, Julia fazia os registros com sua máquina frenética (saldo de quase 400 stills).

Enquanto Raul passava apuros sendo extorquido, nossas produtoras se puxavam para sanar pequenos problemas e um problemão: a alimentação da turma. Numa solução ousada e dispendiosa, mas inteligente, a Bruna começou a assar pizzas no platô e programar um almoço por turnos para os guerreiros, que vinham paleteando coisas, arrumando figurino, objetos, contendo pessoas indesejáveis e trabalhando duro desde cedinho. No set, o bicho pegava afu e o sol castigava a pino. Eu, que estava no rebatedor, ouvia a pele dos atores fritando enquanto minha testa estava tão quente que poderia fazer um omelete nela. A Lisi retocava o Make-Up e Cíntia e Marcelo, os assistentes de direção, elocubravam soluções para algumas tomadas junto ao Diretor, que pacientemente me emprestava o celular para sanar algum pepino novo.

Próxima parada: Centro da cidade.

Com atraso de uma hora e meia no cronograma, chegamos na Travessa Leonardo Truda para a cena de perseguição. Eduardo Ribeiro (que eu ainda não conhecia) trocava risadas com Ricardo Ghiorzi enquanto nos aguardava. O primeiro para o papel de Tosco, o pior pesadelo de qualquer um; o outro, o responsável por nossos FX, que se deslocou de Canoas só para fabricar uma cicatriz na cara do grandalhão.


Novamente montamos platô e preparamos o Eduardo enquanto a elite do curta saiu para filmar a cena do orelhão. Não posso contar muitos detalhes sobre isso, pois não sou da elite (beiço). Mais uma vez, o pessoal do figurino se puxou na confecção do personagem. Não sei onde diabos arrumaram aquela camiseta, mas foi como se o Edu tivesse nascido com ela, de tão boa que ficou. Há de se enumerar aqui sobre a eficiência do Duca (figurinista) na idealização dos costumers, e da Juliana (Produtora de Figurino) na disponibilidade das roupas. Sintonia é o que há ali.

Chega a cena da perseguição, que foi tão complicada quanto divertida. Nela, Raul foge de Tosco pelas ruas do Centro. Eu estava com medo que o Soriano corresse demais e a coisa ficasse meio inverossímil, pois o Edu é grande. Grande do tipo MUITO grande. Ledo engano. Quando tu vê um cara de 2 metros de altura e 140 kg com aquela velocidade, tu começa a suspeitar de que tem algo errado na Matrix. Raul olhava pra trás e via o Tosco bufando no seu cangote, pau a pau. Soriano suava. Eduardo não. Atrás da câmera, Márcio Cardoso fazia mágica enquanto corria e filmava ao mesmo tempo, sempre com um sorriso no rosto, mantendo uma estabilidade sobre-humana (o que lhe rendeu o apelido de “Steady-Man”). Aqui, valeu a paciência da turma em atravessar ruas e, novamente, fazer contenção enquanto o Tosco, escorado em um poste, assustava um pai e seu filho que passavam desavisados pelo set. Os coitados atravessaram a rua, temerosos por suas vidas só de olhar para ele.

Nos poucos minutos de folgas que tínhamos entre um take e outro, o Edu fazia a alegria da galera com suas histórias escabrosas e sua coreografia “Sandy e Júnior”. Embora a Gabi estivesse registrando alguns momentos com uma filmadora, ela não conseguiu pegar essa pérola. Ao seu lado, Fernanda tirava fotos para o continuísmo. Momento ímpar: Eduardo me contando uma história sobre sua descendência canina. Quando tiveres oportunidade, pede pra ele te contar sobre isso...

Um episódio a parte foi o da já famosa pedra. Cris e Cainã produziram uma pedra cenográfica perfeita para a cena, mas ela era de isopor e ventava muito no set. Num determinado momento, vemos o Marcelo correndo feito louco atrás da pedrinha, que fazia sozinha uma curva a lá Fórmula 1 e seguia animada pela Av. Mauá. Destaca-se também a péssima pontaria do Soriano, que tinha a missão simples e divertida de jogar a tal pedra na cabeça do Edu. Uma. Duas. Três tentativas. Nada. Começamos a cogitar em trocar o Soriano por um dublê de arremesso, pois era óbvio que o ator tinha tido uma infância frustrada, na qual ninguém o escolhia para parceiro de taco. Não precisou. A pedra pipocou e a cena ficou nada menos que perfeita.

A função foi até às 7 da noite. Reunimos os remanescentes na Cidade Baixa para bebemorar (vide foto) e comentar sobre as atrocidades que cometemos no decorrer do dia. Nos fodemos afu: acordamos cedo, queimamos no sol, aturamos toda sorte de contratempos técnicos, corremos de um lado para o outro como baratas tontas, viramos quase 11 horas de função...olha...não sei dos outros, claro, mas pra mim foi simplesmente tudo espetacular. O tipo de trip que alucina, motiva, nos enriquece, mesmo que ninguém esteja ganhando um tostão furado. Filmar é a melhor função do mundo, minha gente. E com essa equipe então...

No próximo domingo tem mais...