30/08/2011

O CINEMA DE FELIPE M. GUERRA

Felipe M. Guerra, gaúcho radicado em São Paulo, prolífico realizador de cinema de guerrilha e crítico de cinema, nos conta aqui um pouco do seu processo de trabalho. Com diversos filmes de horror, curtas e longas na bagagem, passagem por diversos festivais e paixão incondicional pelo cinema que realiza, Felipe já esteve na mídia de diversos países e ganhou destaque com a criatividade que utiliza para driblar a falta de recursos financeiros em suas produções.



FAZENDO CINEMA INDEPENDENTE


Sempre realizei cinema de guerrilha - ou seja, no improviso e com dinheiro saído do meu próprio bolso. Não pago meus atores e atrizes, que são amigos ou familiares, e só invisto nas fitas (já que filmava em VHS, agora em mini-DV) e "efeitos especiais", volta-e-meia na alimentação da equipe quando a filmagem se estende demais. Nunca tive paciência para encarar a maratona burocrática que esses editais e leis de incentivo à cultura exigem, e também sou muito ansioso, então não conseguiria ficar esperando anos até que todo o processo se desenrole para que meu roteiro seja filmado. Eu prefiro filmar do meu jeito e como eu quiser. Até porque fico imaginando a cara do sujeito que seleciona os projetos recebendo meus roteiros com títulos como "Canibais & Solidão" e "Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado". Mas, falando como alguém que só conhece um dos lados desse processo, acho que a principal diferença é que o cinema de guerrilha exige que você pense em termos de publico, pois seu filme precisa ter algum tipo de retorno (venda de DVDs, principalmente) para que você recupere seu investimento e possa continuar produzindo. Especialmente no meu caso, já que sou eu que pago todas as contas. No caso de quem produz através das leis de incentivos fiscais, fica bem facinho para fazer o que der na telha sem pensar em retorno financeiro. Afinal, esses caras ganham o dinheiro do governo de mão beijada e não precisam se preocupar com bilheteria, nem mesmo com exibição; o filme já está pronto e com tudo pago, foda-se se vai chegar aos cinemas! Tem uns cineastas brasileiros que lançam filme novo a cada dois anos graças a essa mamata, e só se preocupam em participar de festivais, se vai passar nos cinemas ou sair em DVD depois é outra história. Penso que isso é fácil porque você termina seu filme sem ter gastado seu dinheiro e ao mesmo tempo sem dever nada a ninguém, não precisa nem dar uma contrapartida. O sistema todo devia mudar, contemplando também a questão da exibição do filme pronto. E deviam impor limitações para que certos diretores parassem de fazer qualquer merda com dinheiro do governo. Tipo, se o filme deu um prejuízo astronômico e foi visto por apenas meia dúzia de espectadores, os realizadores precisam devolver o dinheiro investido ou parte dele. Só assim para a coisa ser justa!





AS DIFICULDADES DE PRODUÇÃO


A principal é a falta de dinheiro. É óbvio que eu queria ter grana para pagar o pessoal que trabalha comigo e para fazer a coisa de maneira mais profissional. Como não tenho, o que faço é contar com a boa vontade da minha equipe e adaptar o projeto à minha realidade financeira. Em 2007, por exemplo, escrevi um roteiro de filme de zumbis. Por não ter recursos para filmar multidões de zumbis perambulando pela cidade, resolvi focar a narrativa nos personagens sobreviventes, e não nos mortos-vivos (e só não filmei esse roteiro porque teve uma overdose de filmes nacionais independentes com zumbis, então não quis ser repetitivo). Outro caso que me deixou muito chateado: sabe esse filme novo do Cláudio Torres, "O Homem do Futuro"? Pois em 1999 eu escrevi um argumento sobre um rapaz que voltava 10 anos no tempo para reconquistar a namorada que perdeu numa noite de réveillon. Meu projeto empacou primeiro porque eu nem imaginava como fazer os efeitos especiais do cara voltando no tempo, e segundo porque eu precisaria filmar as cenas "do passado" em 1999 e depois esperar uns cinco ou seis anos até a paisagem da minha cidade mudar (com novos prédios construídos), e só então filmar as cenas do "presente", caso contrário não teria como ilustrar que o personagem voltou 10 anos no tempo sem gastar uma fortuna em cenários! Só de pensar no trabalhão que isso me daria, acabei adiando o projeto. E agora o Cláudio Torres lança esse filme com argumento bem parecido, mas certamente uma história bem medíocre (o trailer, pelo menos, é horroroso), e inviabiliza o meu projeto, porque se eu for fazer agora, serei acusado de plágio! Então, infelizmente eu não posso sonhar muito alto por causa dessas limitações financeiras. Jornalistas vivem perguntando o que eu faria se tivesse um milhão de reais. Acho que não faria um filme caro, e sim vários pequenos filmes mais baratos. Eu jamais faria um "Avatar", não vejo sentido em gastar uma fortuna para recontar a mesma história manjada. E se do jeito que trabalho hoje não posso me dar ao luxo de realizar certas coisas, pelo menos continuo produzindo à minha maneira, com os recursos à disposição. Sempre achei isso melhor do que ficar apenas sonhando com o que eu poderia fazer se tivesse dinheiro, e, no fim, não fazer nada.




O MODUS OPERANDI DE FELIPE M. GUERRA

Nunca filmei roteiros de outros, tudo que fiz até hoje saiu da minha cabeça. E eu tenho tantas idéias que poderia viver escrevendo roteiros para os outros filmarem, se isso desse dinheiro aqui no Brasil. Geralmente eu trabalho em cima de um tema que gosto e tento adaptá-lo à realidade em que vivo e conheço, que é a vida no interior do Rio Grande do Sul. Não faço muitos tratamento do roteiro, mas ele é bastante modificado ao longo das filmagens. É comum surgirem novas idéias enquanto o filme está sendo feito, e o roteiro serve apenas como base. No caso do meu filme mais recente, "Entei em Pânico Parte 2", filmamos apenas uns 40% do roteiro, o resto foi tudo improvisado. Inclusive algumas das melhores idéias - como o personagem que é sempre ferido na mesma mão nos sucessivos encontros com o assassino - surgiram na hora de filmar. Eu não gosto de ficar preso ao roteiro, "engessado". Também não faço storyboards, prefiro filmar versões diferentes da mesma cena. Como eu mesmo vou editar, já tenho uma noção do que preciso, e prefiro ter material a mais do que a menos. "Entrei em Pânico Parte 2" tinha 30 horas de material gravado para um filme de 80 minutos. Só uma cena de matança coletiva, cheia de efeitos de maquiagem, consumiu cinco fitinhas - ou cinco horas! Qualquer outro editor arrancaria os cabelos, mas eu acho que a montagem flui melhor quando você tem várias opções para usar. Eu diria que filmo muito rápido e sem complicação, porque não uso iluminação profissional (apenas luz natural) nem boom (apenas o som captado pelo microfone da câmera). Sem isso, o processo todo ocorre bem mais rápido, sem tanta pentelhação. Se meus filmes demoram para ficar prontos (e "Entrei em Pânico Parte 2" demorou quase três anos só para terminar de filmar!), é porque os atores não são atores, então dependo da disponibilidade deles para podermos fazer as gravações. Mas quando o projeto é descomplicado, flui naturalmente. Meu curta "Extrema Unção", por exemplo, foi filmado em dois dias e custou apenas R$ 40,00, com uma equipe de cinco pessoas reunidas na casa da minha avó! E só numa exibição no Itaú Cultural, em São Paulo, ganhei cachê de 500 reais - ou seja, 12 vezes o que o filme custou!




DIVULGANDO O CINEMA INDEPENDENTE

Eu sou formado em jornalismo e sempre trabalhei na área, então tenho um mínimo de conhecimento sobre formas de marketing e divulgação. Meu longa de 2001 "Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado" é um dos filmes independentes brasileiros mais conhecidos e menos vistos de todos os tempos. O que eu fiz: naquela época, gravei umas 50 fitas (tempos de VHS) e mandei para tudo que era site, revista de cinema e emissora de TV do país. Não demorou muito para que começassem a falar sobre o filme. E aquele negócio tosco gravado na minha casa ao preço de R$ 250,00 e editado em dois videocassetes ganhou resenhas na revista SET e numa publicação sobre cinema fantástico da Espanha, chamada Fabulando Espantos; também apareceu numa porrada de sites e em programas de TV como o Fantástico e o Caldeirão do Huck. Hoje, com a internet, a divulgação do trabalho independente é muito fácil, bem mais do que no final dos anos 90, quando os fanzines eram o canal mais importante e você vivia de vender fitas pelo correio. O problema é que a mesma internet que divulga teu trabalho mais rapidamente também compromete o retorno do investimento. Se no passado você precisava comprar o filme do sujeito para assistir, ou no máximo conseguir uma cópia pirata de um amigo que comprou, hoje é muito fácil baixar qualquer filme na rede. E eu não sou hipócrita, porque baixo um montão de filmes também. Mesmo assim, acho errado você fazer download do filme do pobre sujeito que se matou para fazer um projeto pessoal com dinheiro do próprio bolso e que precisa vender DVDs para continuar filmando. Eu nunca baixei um filme do Petter Baiestorf ou do Rodrigo Aragão, por exemplo, porque sei que eles fazem cinema na raça e precisam ter retorno financeiro. Acho que a internet, hoje, poderia ser usada como termômetro para produtores selecionarem novos projetos para investir. Isso acontece muito no exterior. O Sam Raimi viu o curta "Ataque de Pânico", do uruguaio Federico Alvarez, no YouTube, gostou e resolveu bancar o próximo filme do cara lá em Hollywood. A internet e o YouTube se transformaram numa importante vitrine para descobrir pessoas que fazem coisas criativas com poucos recursos, mas aqui no Brasil, infelizmente, ninguém dá bola para isso ainda. Quer um exemplo? Tem um site aqui no país chamado Filmow, que é uma rede social reunindo cinéfilos do Brasil inteiro. Esse site seria uma bela forma para analisar o que o público quer e não quer ver. Por curiosidade, eu cadastrei meus filmes ali. Pois se você acessar o Filmow hoje e for à ficha do meu filme "Entrei em Pânico Parte 2", vai descobrir que 1.035 dos usuários marcaram "Quero ver", e foram publicados 694 comentários sobre ele. Como curiosidade, procure no mesmo site as fichas dos filmes que venceram o Festival de Cinema de Gramado de 2010: "Bróder" (premiado do júri) tem 704 "Quero ver" e 91 comentários; "180 Graus" (vencedor do júri popular) tem míseros 38 "Quero ver" e apenas DOIS comentários. Sendo que "Bróder" teve lançamento nacional em poucas salas e esse último nem chegou aos cinemas! Agora pensa comigo: se você fosse um executivo de cinema e quisesse investir no novo filme de um diretor ainda desconhecido, e querendo conseguir retorno financeiro, será que não teria uma bela idéia sobre o que o público quer e não quer ver entrando no Filmow e analisando esses exemplos acima?




ENTREI EM PÂNICO AO SABER O QUE VOCÊS FIZERAM NA SEXTA-FEIRA 13 DO VERÃO PASSADO 2


A repercussão do filme está bem interessante. Eu tinha medo do que poderia acontecer pelo fato de ser uma continuação de um filme amador feito 10 anos atrás e que quase ninguém viu. Mas a obra vem chamando a atenção justamente pelo título estapafúrdio, e por ser um slasher movie produzido no interior do Rio Grande do Sul. O filme estreou no Fantaspoa, em Porto Alegre, no começo de julho, e, mesmo sendo uma noite de frio glacial, a sala ficou superlotada, com pessoas sentadas na escada. No final do mesmo mês, "Entrei em Pânico 2" foi exibido no RioFan, no Rio de Janeiro, e fiquei muito surpreso ao saber que foi eleito o terceiro melhor filme pelo júri popular, perdendo apenas para "The Woman", do Lucky McKee, e "A Noite do Chupacabras", do Rodrigo Aragão, mas ganhando de gente mais conceituada e premiada mundo afora, como Alex de la Iglesia e Simon Rumley, cujos filmes também foram exibidos no festival. Infelizmente, ainda há um pouco (talvez um muito) de preconceito nos festivais de cinema brasileiros em relação a filmes gravados em mídias "alternativas" (no meu caso, mini-DV). Alguns não aceitam nada que não seja em HD, ou mesmo em película, o que limita bastante a visibilidade de obras como essa minha. Mas não posso me queixar, pois são grandes as possibilidades de "Entrei em Pânico Parte 2" ser exibido em festivais de gênero no exterior ainda este ano, o que para mim já será uma grande conquista, pois é meu primeiro filme passando no exterior!




PRÓXIMOS PROJETOS

Meu próximo longa deverá ser um road movie sobre dois rapazes que procuram a amada de um deles pelas praias do litoral gaúcho. É meu primeiro roteiro sem mortes nem sangue, e resolvi filmá-lo porque várias pessoas me falaram, sobre "Entrei em Pânico Parte 2", que a melhor coisa do filme eram as cenas com os personagens ANTES que começassem os assassinatos. Então pretendo filmar essa pequena comédia romântica que deve sair bem barata e será focada nas relações entre os personagens e nos diálogos, e não na matança. Também estou produzindo um longa de horror que será dividido em três episódios, todos eles influenciados por histórias do imaginário popular da Serra Gaúcha. Um dos episódios será escrito e dirigido por mim, e os outros dois pelos meus amigos Eliseu Demari e Rafael Giovanella. É algo para ser filmado rápido, com o objetivo de estrear já em 2012. Além disso, tenho meu projeto dos sonhos que só será realizado quando eu tiver dinheiro e recursos: uma homenagem aos westerns italianos, filmada no interior do Rio Grande do Sul e ambientada no final do século 19, na época do início da imigração italiana no Estado. Como a trama exige um mínimo de reconstituição de época e cenas mais complicadas de ação, com armas e tiroteios, só vou filmar esse roteiro (que tenho guardado desde 2007) quando estiver com uma boa graninha em caixa. Portanto, me ajudem: comprem os DVDs dos meus filmes ao invés de pedir onde tem para baixar!!! Também tenho várias idéias para curtas que podem ser produzidos a custo quase zero, no estilo do meu "Extrema Unção". Para esses só me falta mesmo o tempo, já que eu acabo me dedicando a outras coisas e sempre adio esses projetos mais fáceis...





E eis aqui um tira gosto do trabalho de Felipe M. Guerra, o curta EXTREMA UNÇÃO, dividido em duas partes:



E uma entrevista exclusiva dada ao Programa Fantástico da Rede Globo em 2002:


27/08/2011

Moviola Filmes e O Liberdade - Parte 2

Na continuação da conversa com Cintia Langie, fundadora da produtora pelotense Moviola e diretora do longa "O Liberdade", falamos sobre a dificuldade de fazer cinema no Brasil e a gratificação trazida para os participantes dos projetos.

FAZENDO CINEMA NO BRASIL

Fazer cinema é sempre dificil. Dificil ter uma idéia. Dificil confiar na ideia e levá-la adiante. Dificil montar a equipe. Dificil contagiar e envolver a equipe. Dificil dominar a tecnica. Dificil ter equipamento. Dificil contar uma história. Porém, ao mesmo tempo, fazer cinema é encantador e mágico. As pessoas querem ajudar, as pessoas tem compaixão por que enfrenta as dificuldades e ainda assim peita fazer cinema. Então, ao longo dessa pequena trajetória da Moviola tivemos muito isso: muitas dificuldades, mas muitos incentivadores que sempre deram força, desde o começo. A produção é o calcanhar de Aquiles do cinema brasileiro. Para produzir precisa-se de meios e para isso precisa-se de dinheiro. Dinheiro esse que não se tem. Então, produzir o filme (viabilizar tudo o que o roteiro pede) torna-se muitas vezes um trabalho braçal de muita criatividade. E é assim que a gente faz, como muitos outros coletivos de cinema fazem. Não somos uma produtora comercial, com sede, computadores e funcionários. Somos um coletivo de pessoas, cada uma com seu emprego, que se juntam para fazer os filmes. Trabalhamos nas nossas casas, com nossos equipamentos pessoais. Mas a questão técnica nunca foi um empecilho para fazer os filmes. A criatividade e a vontade de contar uma história vem sempre na frente. Nosso primeiro curta, o Katanga's Bar (está no youtube), tem muitos primeiros planos, pois só tinhamos uma câmera handcam mini-dv, sem microfone. Então, para captar melhor o áudio, chegávamos com a câmera bem perto do entrevistado. E assim vamos construindo nossa linguagem, enfrentando as limitações da técnica e criando desse modo uma essência. As principais dificuldades de produção encontradas são sempre relacionadas com a falta de recursos financeiros para alugar equipamentos. Mas sempre trabalhamos com a colaboração de apoiadores. No longa O Liberdade, por exemplo, contamos com o apoio da produtora pelotense In Cena, que emprestou seu travelling em troca do logo da produtora no filme. No curta Futebol Sociedade Anônima, contamos com apoio da Plug Produtora, que emprestou a grua e sua ilha para finalização. É assim. Temos um produto nas mãos, que é o filme, e daí conseguimos o que precisamos oferecendo esse espaço para divulgar as parcerias. Mas isso só é possível hoje pois fomos conquistando a confiança dos parceiros aos poucos. Fizemos um filme, lançamos ele, divulgamos, chamamos o público. Demos continuidade na produção, com outro filme, mostrando que queriamos mesmo fazer cinema. No terceiro filme era mais fácil os atores aceitarem participar de graça, pois já tinhamos certa experiência. No quarto curta - Estacionamento-, foi mais gente ao lançamento, o nome Moviola já era um pouco conhecido. No quinto curta foi mais fácil conseguir distribuição, Futebol Sociedade Anônima foi exibido nos curtas gaúchos da RBS, pois com a experiência dos filmes anteriores já não errávamos mais nas questões técnicas. Mas continuávamos errando, só que menos, cada vez menos. Errando se aprende muito a fazer cinema. Dar continuidade no trabalho é crucial para aprender e para mostrar à comunidade que se tem a determinação de seguir produzindo com seriedade, e isso é o motor para a produção funcionar.

Os cabeças da Moviola reunidos


FAZER CINEMA NO RIO GRANDE DO SUL
Fazer cinema independente no sul do Brasil é um desafio. Creio que fazer cinema no norte também... Trabalhar com cinema (que é uma arte complexa e um tanto quanto cara) em cidades do interior é sempre complicado. A dificuldade começa na equipe. Não haviam muitos técnicos com experiência em cinema na época que começamos. Tinhamos que ir formando as equipes. Hoje, com o curso de Cinema da UFPEL está melhorando. Os cursos de cinema tem dado ao mercado uma série de técnicos em diferentes áreas audiovisuais, o que qualifica, e muito, o trabalho. Outra dificuldade é a questão da falta de vontade de patrocinar projetos culturais nas cidades do interior. Creio que na capital seja mais fácil encontrar empresas com visão, que entendam a importância de se atrelar a iniciativas artísticas. Nas cidades do interior gira pouco dinheiro nessa área. Às vezes precisamos de apoio de alguma empresa para pagar os cartazes de divulgação e temos muita dificuldade em conseguir. Mas sempre driblamos essa dificuldade, contando com as parcerias que adquirimos desde o começo de nossa trajetória, em 2007. A Moviola hoje recebe muito carinho das pessoas da cidade. Isso nos emociona. Ganhamos o prêmio de Melhor Música na Mostra Gaúcha do Festival de Gramado deste ano, e parecia (e de fato era) que toda a cidade havia sido premiada.



Cine Guarany, Lançamento MARCOVALDO


MARCOVALDO E OS FESTIVAIS
Marcovaldo é o sexto curta da Moviola. Foi feito em 2010 sem nenhum patrocinio, nem lei de incentivo. Orçamento caseiro, num total de uns R$ 3 mil aproximadamente. O curta foi concluido e lançado em outubro de 2010. O lançamento já foi surpreendente para a equipe, pois mais de mil pessoas foram ao Theatro Guarany ver o trabalho. Uma das características da Moviola é a vontade e determinação na "divulgação e distribuição". A estratégia de divulgação de Marcovaldo, além de teasers, cartazes e emails, foi confeccionar sacolinhas de lixo para carros com a marca do filme. Como o filme aborda a questão do lixo, achávamos que poderia funcionar utilizar as sacolinhas. De fato foi um sucesso e todos queriam sua sacolinha. Fizemos fotos com vários usos para essa sacola e isso faz com que muita gente soubesse do lançamento. Depois disso, passamos a fazer cópias do filme e passamos a enviar para uma série de festivais. Marcovaldo já foi exibido em diversos festivais nacionais e também no exterior (França, Uruguai e Argentina). A lista completa de prêmios do curta está no site www.moviolafilmes.com. A recepção desse curta é muito interessante. Já ganhamos três prêmios de melhor filme pelo "Júri Popular", no Pará, em Marselha/França e em Oberá/Argentina. Isso significa que o filme se comunica com a platéia. E no final das contas, o que nos motiva a fazer cinema é exatamente isso: tocar o público.

Sacolinha de Marcovaldo


E A GRANDE ESTRÉIA DE O LIBERDADE
O Liberdade será lançado no dia 06 de outubro, quinta-feira, às 20h, no Theatro Guarany, em Pelotas, com entrada Franca. Depois disso, estaremos procurando distribuidoras que topem espalhar o longa pelo país. Iremos enviar também a diversos festivais, queremos também apoio para lançar o filme em POA, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A meta é levar o filme ao maior número de pessoas possíveis, pois a história desse bar merece ser contada, um bar que de dia atende aos agricultores da Colônia de Pelotas e nas noites de sexta e sábado transofrma-se num reduto de Chorinho de alta qualidade. Em breve, o primeiro longa da Moviola.

E para finalizar, eis mais um teaser do filme:



FICHA TÉCNICA DE O LIBERDADE

Roteiro e Direção
Cíntia Langie e
Rafael Andreazza

Direção de Fotografia
Alberto Alda

Direção de Arte
Bianca Dornelles

Produção
Alexandre Mattos
Assistente de produção
Milena Lopes

Pesquisa
Daniela Pinheiro e
Cíntia Langie

Montagem
Cíntia Langie
Finalização
Thiago Rodeghiero

Operador de Câmera
Felipe Campal
Chico Maximila

Som direto
Davi Mesquita e
Lauro Maia

Finalização de áudio
Lauro Maia

Estagiários
Andruz Vianna
Ana Luisa Monteiro Correard

Foto Still
Bianca Dornelles

Arte Gráfica
Renato Cabral

26/08/2011

Filmes que Não Fiz


Partindo da premissa deste talentoso curta, Filmes Que Não Fiz, decidi escrever um pouco sobre este tema bem coerente ao cinema independente, afinal de contas, quando se fala em guerrilha, tem guerras que não saem de dentro de nossas reuniões mas que deixam de eclodir por pequenos motivos.
Cinema independente é assim: muita idéias e muita paixão mas no contraponto os compromissos remunerados que nos mantém longe de se dedicar a um hobby que requer tanta dedicação. Uma série de fatores físicos e as vezes meio místicos nos separam de gritar um “ação” e colocar a câmera para rodar.

Sem ser linear em meu raciocínio, este foi o caso do grandioso ROAD MOVIE. Aliás, tem sido o caso, porque projetos engavetados, por enquanto, ainda são filmes que não fiz. Mas o futuro reserva surpresas. ROAD MOVIE é um filme labirinto; é uma inversão narrativa que fala basicamente sobre pais e filhos. Dentro deste mundo tem espaço para os temas amor, preconceito, demência, política e violência. O filme foi elencado de forma brilhante, os ensaios se seguiram e todos já estavam afiadíssimos para entrar em set. Mas uma série de infelicidades logísticas e falta de apoio tardou, possivelmente para 2012, o filme de estrada da Arquivo Morto.

Antes disso, ainda dentro do pacote: “escrito, elencado e ensaiado” estava HELLBAZER, o fan movie a ser dirigido por Édnei Pedroso que quase foi as vias de fato. Saíram cartazes do protagonista, Rico Assoni, figurinado como John Constantine. Muita premissa se diluiu no engavetamento do ambicioso projeto.

Na linha filme intimista, uma grande promessa de 2007 era AS COISAS SIMPLES DA VIDA. Contava a melancólica paixão platônica de um desempregado fã de Bob Dylan por uma enigmática mãe solteira. Tudo acontecendo em plena era dos caras pintadas e o fora Collor. Assim como os outros filmes, é um filme engavetado, mas não morto!

Devaneios a parte, 5-15-2 era para ser um blockbuster passado nos matagais e açudes do interior gaudério. Nele, o indefectível Marco Soriano Jr., protagonista de 5-15 (1) e ator clichê da Arquivo Morto, se via as voltas com um bando de mercenários querendo seu pescoço. Muito tiroteio, muita testosterona, explosões e helicópteros estariam lá, acompanhados de um roteiro raso digo de um clássico de Bronson. Filme pipoca da Arquivo que não saiu por motivos óbvios.

Mas ainda dentro do estilo pouco roteiro e muita diversão, está BBZ 2. O afamado terrir que percorreu os festivais do Brasil inteiro agora ganhando uma segunda edição. Vidal e suas tiradas impagáveis, muito sangue e cérebros em um final de semana em Mariana Pimentel regado a cachaça. Levando em conta o nível de dificuldade de produção, este é um possível candidato para ir as telas ainda em 2011. Os fanfarrões de plantão clamam por BBZ 2. Mas desta vez, o roteiro, já pensado, tem mais horror e menos fetiche, mas claro, seguindo a ótica consagrada das câmeras estáticas e do “vamos dar uma espiadinha?”.

Enfim, cada dia nascem novos projetos, uns se alimentam e crescem, outros permanecem dormentes esperando a hora de ganhar vida. Assim é o cinema de guerrilha, assim é a vida.

24/08/2011

Moviola Filmes e O Liberdade

Em 2007 surgia, em Pelotas, no sul do Brasil, o Moviola: um coletivo criativo de grande atuação e uma comum paixão pelo cinema. No trajeto até aqui, diversos curtas premiados que falam sobre a arte, escrutinam a vida e as paixões de pessoas simples e flertam com o documentarismo. Chega 2011 e um novo e apaixonante projeto toma forma: O Liberdade. É sobre este caminho trilhado, esta forma dedicada de fazer cinema e o novo projeto, em fase de finalização, que nos conta nos próximos dois posts, Cíntia Langie, uma das fundadoras da produtora e colaboradora da Arquivo Morto.

A equipe de O LIBERDADE reunida

A EQUIPE E AS IDÉIAS 
A Moviola surgiu em 2007. Um grupo de pessoas que ja fazia cinema esporadicamente, reuniu-se em Pelotas e passamos a assinar os filmes como Moviola. Nessa época eramos 4: Cintia Langie, Alberto Alda, Alexandre Mattos e Chico Maximila. Desde então viemos produzindo todo ano, e muitas pessoas foram se agregando ao grupo - hoje contamos com uma equipe base de 12 pessoas: Rafael Andreazza, Felipe Campal, Daniela Pinheiro, Bianca Dornelles, Lauro Maia, Davi Mesquita, Iná Grabin, Thiago Rodeghiero, entre outros. Além de profissionais, somos todos amigos e nos reunimos frequentemente. É dai que nascem as idéias. Os projetos partem de alguém, esse alguém apresenta a ideia aos colegas, todos pegam junto e opinam, incrementando a idéia. Toda equipe está envolvida nesses debates de projetos, desde o pessoal da produção até a equipe de foto, som e direção.


Belo instântaneo de O LIBERDADE

O NOVO FILME
O bar Liberdade é um reduto do choro em Pelotas. Frequentamos o bar há muito tempo. Em 2008, Cíntia Langie e Daniela Pinheiro resolveram documentar o bar, para mostrar o que ali acontece. O que ocorre no bar, os musicos, os dançarinos, os frequentadores, uma coisa muito rara nos dias de hoje, com muita alma, sempre encantou a equipe e resolvemos transformar isso em um documentário. Montamos uma equipe, pedimos autorização ao dono do bar, e partimos para as gravações. O resultado não foi muito satisfatório. O material captado ficou muito aquém do que tinhamos na mente, sobre o bar. Descobrimos naquele momento que tentar transpor a alma do Liberdade em um filme não seria tarefa fácil. Trancamos o projeto, pois nossa criatividade ficou travada. Porém, a ideia sempre ficou na mente e esse era um compromisso da Moviola: terminar o filme do bar Liberdade. Em 2010, criou-se em Pelotas um Fundo Municipal de Cultura. Debatemos, toda a equipe, e decidimos cadastrar no ProCultura de Pelotas o projeto do documentário O Liberdade. Fomos aprovados. Em fevereiro de 2011 começamos a executar o projeto. Começamos do zero. As imagens feitas em 2008 serviram apenas como pesquisa. E foi muito útil ter feito tudo aquilo. Dessa vez fomos mais maduros para as entrevistas e para pensar as locações. A ideia do novo roteiro do documentário tirava o foco do bar, tirava os músicos e frequentadores daquelas quatro paredes, mostrando também a cidade, seus recantos, suas paisagens. Assim gravamos durante os meses de março e abril. Gravamos tanto, e tudo saiu tão profundo, que não conseguimos editar em 20 ou 30 minutos, como pensavamos. Virou um longa. 


Mais um sorriso em O LIBERDADE

O DESAFIO DO LONGA-METRAGEM 
Fazer um longa sempre foi uma meta da Moviola. Mas pensávamos em fazer isso mais adiante, nos próximos anos. Sempre tivemos consciência de que cinema se aprende fazendo. Queriamos realizar mais uns curtas, antes de partir para o longa-metragem. Mas O Liberdade não poderia ser outra coisa senão o que ele virou: um documentário de 1 hora e 15 minutos sobre a paixão pela música. Durante as gravações, utilizamos duas câmeras (panasonic HVX200 e canon D60) e gravamos o áudio separado com um gravador Zoom H4n. A gravação foi tranquila, tinhamos o roteiro muito esclarecido na mente, muito devido ao fato de ter começado lá em 2008 a documentar esse bar. Porém, o grande aperto foi no momento da montagem. Muita imagem. Imagens de dois formatos diferentes. Áudio separado. A primeira coisa foi conseguir organziar o material. O primeiro corte ficou com 2 horas, e dai fomos afinando as arestas. O orçamento do projeto aprovado no ProCultura tem valor global de R$23 mil. Fizemos um longa com essa quantia. Todos os profissionais receberam valores simbólicos pela sua função. Todos receberam para fazer um curta. E todos encararam o longa com prazer. Este foi o primeiro filme da Moviola com orçamento. Tivemos transporte, tivemos uma pequena verba para produção. Isso fez a diferença. Conseguimos gravar muita coisa. E muito material de qualidade. Mas o grande diferencial desse projeto, creio que como todos os outros da Moviola, foi o componente humano: todos fizeram o filme com paixão. A dificuldade de se tratar de um longa é no momento atual. Estamos finalizando em After Effects e o computador tem dificuldades para trabalhar com um projeto tão grande. A dificuldade é também enxergar que temos um filme mais "profissional" nas mãos e que precisamos batalhar para distribuí-lo de uma forma profissional. Mas esse desafio é o que, no final das contas, faz a diferença.

Acompanhe o resto desta história em breve e enquanto isso acesse o blog da Moviola para saber de novidades http://moviolafilmes.blogspot.com/ e assista aqui ao teaser de longa.


19/08/2011

ARMADA

Agora é oficial. O curta-metragem "Armada" foi contemplado pelo Financiarte e estará entrando em produção em breve. Na brutal história, que tem como pano de fundo o Brasil da ditadura militar, um jornalista é preso e torturado fisica e psicologicamente por seu nemesis, um ferrenho agente do governo, que planeja com uma confissão, desbaratar um iminente levante armado a se dar em solo gaúcho.
Em breve mais novidades.

13/08/2011

O Esquartejador Metropolitano

E está a mil a produção e filmagem do primeiro longa-metragem do nosso eterno mestre/parceiro/colaborador Ricardo Ghiorzi. O Esquartejador Metropolitano vai ser um horror tipo giallo com muitas vísceras, mulheres ensanguentadas e um assassino implacável. Com uma produção de guerrilha e toneladas de sangue jorrando, durante o Fantaspoa 2011 já foi ao ar um tira gosto: o teaser do longa, que você pode assistir aqui:


O teaser deixa um pouco no ar o teor da história conduzida por Ghiorzi mas o trailer, que foi divulgado algumas semanas atrás, revela melhor o que vai rolar:


O filme estará pronto em 2012 e todos aguardamos ansiosos para ver o talentoso FX man atrás das câmeras. Leia aqui o que foi dito da produção no blog do Lerina, também devidamente publicado na contracapa do jornal gaúcho Zero Hora.

10/08/2011

Site Nove e Meia

Está no ar a partir desta semana o site www.noveemeia.com. Além de trazer uma introdução ao novo curta-metragem da Arquivo, o site linka os parceiros do filme e tem toda a ficha técnica inclusa. O site estará em breve sendo alimentado com novidades da produção. Siga-nos no twitter para acompanhar a produção!

05/08/2011

Nove e Meia


Está em produção o próximo curta-metragem da Arquivo, NOVE E MEIA. Após anos de tratativas com a editora do contista e novelista Rubem Fonseca, veio a documentação que autoriza a adaptação para o cinema do conto "Nove horas e trinta minutos", da coletânea "Pequenas Criaturas". A história narra o sofrimento de um pai cuja filha pequena foi morta em um acidente de trânsito. No elenco estão Rafael Tombini, Herlon Holz, Danielle Fogliatto e Leonardo Machado. Veja em primeira mão o cartaz do curta-metragem. Em breve mais novidades